A propósito do tema principal deste blog, li ontem o seguinte texto da escritora Luisa Castel-Branco. Dá mesmo que pensar...
Vejo com espanto quantos jovens estão sozinhos na vida.
Rapazes e raparigas entre vinte e trinta anos, ou já se divorciaram,
ou já tiveram uma união de facto que terminou, ou simplesmente
ainda vivem em casa dos pais. Por muito que a noite da
24 de Julho se encha, os bares, as discotecas, os passeios e as
ruas cheias de gente com um copo na mão, a verdade é que elas
se queixam que eles não se querem comprometer, e eles
queixam-se que não as percebem. Nunca se falou tanto de sexo,
nunca se discutiu tanto os afectos e contudo, a solidão é cada vez
maior. Os homens e as mulheres sempre falaram línguas diferentes
e sentiram o mundo de formas diversas. Mas é exactamente
a união destas discrepâncias que produz o todo. Encontramos no
outro o complemento de nós mesmos. E contudo, hoje sem tabus,
sem repressões parece que a felicidade anda mais longe do
que na minha geração. Claro que muitos de nós errámos e tentámos
de novo, mas não é isso a vida? Seguramente que as múltiplas
dificuldades quer financeiras, falta de emprego, realização
pessoal ou outras tornam difícil sonhar o futuro. Mas não será
melhor sonhar a dois? É por medo de sofrer que não se arriscam
a amar, ou por egoísmo? Não sei. Mas cada dia mais tudo incluindo
as relações entre as pessoas se tornam descartáveis. O prazer
tem que ser imediato, o retorno imediato. Mas o amor não é isso
nem se compadece dessa urgência egoísta e efectivamente triste.
Estou quase a dizer que dantes era melhor. Deus me livre de
um dia chegar a tal coisa mas nunca se sabe!